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sábado, 11 de junho de 2011

Liberdade

Capítulo 3

Enquanto caminhava, Júlia quase trombou com uma menina asiática. Atrapalhada, a garota de olhos puxados perguntou à Julia onde era o refeitório. Bastou isso e em alguns segundos, já estavam conversando sobre milhões de coisas. 
- Qual é o seu nome? – Júlia perguntou isso apenas depois que o assunto havia acabado.
- Chiaki. E você está proibida de dizer “O quê?” ou mesmo “Ãnh?”. – ela advertiu.
- É um nome interessante – disse Júlia, rindo.
- Eu percebi uma ponta de ironia nesse seu “interessante”? – Chiaki reclamou.
- Claro que não.
- O pior é que o nome do meu irmão rima com o meu: Osaki. Até hoje me pergunto que coisa minha mãe tomou antes de dar esses nomes pra nós. Osaki e Chiaki. Dá até pra formar uma dupla sertaneja japonesa.
Júlia se simpatizou com Chiaki imediatamente, e vice-versa. Foram juntas até o refeitório e assistiram uma mulher de cabelo vermelho subir em um tablado para dizer mais ou menos o que elas já esperavam ouvir:
- Sejam bem-vindos à Boituva, que é conhecida internacionalmente como o maior centro de pára-quedismo da América Latina.  E sejam bem-vindos, é claro, ao Acampamento de Esportes Radicais! – disse a senhora pelo microfone, para em seguida listar as regras do acampamento, às quais Júlia não prestou muita atenção.
Estava concentrada em olhar a programação do acampamento no papel que ela acabara de receber de um funcionário. Observou, radiante, que naquela mesma tarde ela teria a felicidade de se pendurar em uma corda elástica e em seguida se jogar de um penhasco. No papel, lia-se: Segunda feira – Treinamento e prática de Bungee jumping.
Na hora do almoço, Júlia e Chiaki se sentaram na mesma mesa de três garotas não muito simpáticas. A mais velha, que parecia ser a líder do grupinho, tinha cabelos repicados e loiros, excesso de maquiagem no rosto, e se chamava Stefany. As outras duas, Tatiana e Bruna, se esforçavam para serem cópias perfeitas dela. Bastaram cinco minutos de conversa para que Júlia e Chiaki percebessem que elas não eram pessoas confiáveis.
- Estou tão ansiosa para o Bungee Jumping, hoje. – comentou Júlia.
Stefany revirou os olhos.
- Se pendurar em cordas e pular de penhascos é coisa pra perdedores. Odeio esportes radicais. Só servem pra arruinar o meu cabelo e quebrar as minhas unhas.
Tatiana e Bruna riram. Júlia e Chiaki se entreolharam.
- Se você odeia... Por que está em um acampamento de esportes radicais? – Júlia perguntou, tentando continuar paciente.
- Pelo único motivo pelo qual vale a pena vir pra esse fim de mundo cheio de mato e mosquitos. 
Tatiana e Bruna riram novamente, e Chiaki fez uma cara de nojo hilária.
- E qual é esse motivo? - perguntou Júlia.
- O instrutor do acampamento, é claro. Provavelmente, vocês, desinformadas, não ouviram ainda falar DELE. O instrutor é simplesmente um deus grego. Lindo, alto, corpo atlético, olhos castanhos, cabelo preto, e... Ai, tá calor aqui, né? Enfim, ele é o cara mais gato com quem eu já fiquei.
- Ficou com o instrutor do acampamento?! - exclamou Júlia, horrorizada.
- É. No acampamento passado. Foi o momento mais mágico da minha vida. No acampamento passado, eu vim porque meu irmão me obrigou a acompanhá-lo. Pensei que ia ser uma tortura. Mas foi a melhor semana da minha vida, graças àquele deus grego. Então, resolvi vir novamente ao acampamento. O instrutor vai me pedir em namoro. È óbvio que ele vai. Ele me adora. 
Júlia achou aquilo o absurdo dos absurdos. Odiava falta de profissionalismo, especialmente, quando professores safados se aproveitavam de suas alunas, por serem novas e bobinhas, fazendo-as se apaixonarem e ficarem completamente iludidas, para depois chutá-las para escanteio. Júlia conhecia muito bem aquele tipo de cara. Rodeado de mulheres, sem levar nenhuma a sério. Decidiu, imediatamente, que iria odiar o tal instrutor.
- Que otário. Tomara que alguém descubra isso e ele seja demitido. – Júlia sussurrou para si mesma, mas Stefany ouviu perfeitamente.
- Ele não vai ser demitido. A menos que vocês nos dedurem. Só que vocês são garotas de bom senso e não vão fazer isso... Até porque, queridinhas, caso vocês falem qualquer coisa sobre isso, eu juro que faço esse lindo acampamento virar um inferno pra vocês. - ela disse, usando um tom de voz ameaçador que, para Júlia, não provocou efeito nenhum, mas que deixou Chiaki furiosa.
- Escuta aqui, sua... – Chiaki se levantou da mesa, vermelha de raiva.
- Adoraria ficar aqui e ver você armando um barraco, mas eu tenho mesmo que ir. Vamos, meninas! – Ela se dirigiu à Tatiana e Bruna, e elas se levantaram e saíram do refeitório em cima de seus saltos plataforma.
- Que filha de uma...
- Deixa pra lá, Chiaki. Vamos esquecer isso. É só o típico grupinho das patricinhas mimadas.
- Olha, se ela vier mexer a gente de novo, a minha mão vai parar propositalmente no meio da cara dela! – avisou Chiaki, enquanto Júlia achava graça da personalidade da colega, que parecia ser incapaz de aguentar provocações calada. Júlia, no entanto, estava tão satisfeita por estar naquele acampamento que nem conseguia se irritar com nada.

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